sexta-feira, 21 de março de 2014

Valeu, bandido!

Foi-se o tempo em que seleção exemplar de futebol era a brasileira, chefe e provedor do lar era o homem, emprego bom era o mesmo e durava até a aposentadoria, e bandido legal era o que terminava atrás das grades.   

Ontem, ouvi do meu vizinho uma história contada e vivida pelo amigo dele. Apesar de ser só mais um desses casos de polícia-ladrão que já estamos cansados de ver e ouvir na mídia (quando não, presenciar), o fato é que, ao chegar ao fim da conversa, não pude evitar refletir sobre a mudança nos nossos conceitos, em virtude da trivialidade dos acontecimentos dessa nova era.

Não me espanta tanto o lugar, nem o horário, mas sim a maneira como aconteceu. 
Vamos aos fatos: Numa manhã tranquila de terça, o tal amigo fugiu da sua rotina e trajeto diários para comparecer a um compromisso pontual. Após fazer o que precisava, seguiu em direção ao lugar onde tinha estacionado seu carro e, ao se aproximar, percebeu uma movimentação estranha perto dele. HUM!

Um rapaz bem vestido, em traje social, estava deitado embaixo do seu carro, como se estivesse à procura de algum objeto perdido. Quando o viu ali, abaixado, sua primeira reação foi chegar mais perto para perguntar se podia ajudar de alguma forma, já que o carro era seu. Envolvido por esse pensamento, não notou que esse mesmo rapaz estava sendo "escoltado" por outro, que se apoiava em uma das árvores da calçada. Hum... DOIS!

A partir daí, nem preciso dizer que a real intenção dos rapazes não demorou a tomar forma. Enfim... TRÊS: anunciaram o assalto. A ação foi bem rápida, como costuma ser, mas claro que deve rolar um "delay" dentro da nossa cabecinha até constatar o que está rolando (ou rodando) de fato, ainda mais quando o óbvio não parece tão óbvio assim.

Enquanto tomavam o carro, eles pediram, educadamente, - eu escrevi isso? - que o amigo desse meia volta e fosse embora dali, para que não houvesse nenhum alarde e nada de mais grave viesse a acontecer. Diante da aparente calma dos rapazes, ele se atreveu a pedir a chave da casa que estava no interior do veículo. Pois vejam só, resposta afirmativa! 
E, pasmem, além da chave, ele ainda conseguiu negociar e reaver a mochila onde levava seus pertences mais importantes como laptop, carteira e documentos, sem que eles espanassem nem uma só vez. É muita bondade!

Quer mais? Só quando ele estava, finalmente, deixando o local do assalto que, então, os espertinhos se lembraram de exigir (sim, pois é, ahan...) a chave do carro. Mas que ótima idéia, hein! Antes tarde do que nunca! 
Percebendo que estavam sendo "bonzinhos" demais e já com intuito de colocar um fim nessa conversa pra lá de mole, fizeram questão de mostrar um brinquedinho escondido debaixo da camiseta. Chega de brincadeira! Perdeu, playboy! Se manda!

A história termina aqui. 
Eles não foram para o xilindró e nada ainda se sabe sobre o paradeiro do carro, mas diante das atrocidades que andam sendo praticadas por uma turminha bem da pesada solta por aí, acho que o nosso protagonista ainda saiu em vantagem. 

Hoje em dia, bandido legal é aquele que te deixa levar o dinheiro, os documentos, objetos de valor, a chave de casa e, quem sabe por descuido, a chave do carro. Mas só por nos deixar viver, quase que merece um abraço e um obrigado.

Amanda Fabris

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