quinta-feira, 17 de abril de 2014

Eu também não mereço!



Se os deuses protetores da alma feminina me mostrassem um esconderijo secreto ou se a varinha mágica da minha fada madrinha caísse de presente em minhas mãos naquele momento, a história certamente teria terminado de uma forma diferente do trivial. 

Como ainda não descobri nenhuma mediunidade, poder mágico ou divino que me faça diferente das outras, não pude disfarçar e conter o impulso de reagir como a maioria das mulheres: constrangida, apertei o passo e rezei para que a distância de 100 metros até o meu carro virassem apenas 1 (mas, pelo contrário, acho que viraram 1000).

Independente da hora, local ou ocasião, ao longo da vida, iremos nos deparar com algumas situações constrangedoras. É quase que inevitável! Mas nada me parece mais incômodo do que andar pela rua e saber que há alguém te seguindo e, com o perdão da expressão, te "comendo" descaradamente com os olhos. 

Pois bem! 
Estava indo em direção ao meu carro, caminhando pela calçada, quando notei que outro veículo me acompanhava pela lateral. Espontaneamente, olhei para ver se era algum conhecido na tentativa de um "oi" ou se, por ventura, algo estava impedindo que aquele veículo continuasse seu trajeto na velocidade normal. 
Então me pergunto, quem mandou ser curiosa e olhar?

O rapaz nada gentil no interior daquele carro me mirava fixamente, dos pés a cabeça (ou de cabo a rabo, se parecer apropriado), como se estivesse à procura de algo perdido aqui, em mim. Além de sem vergonha, perdeu completamente a noção de que, assim como andar na velocidade de 200 km/h pode causar acidentes, andar a 5 km/h sem atenção no que está acontecendo ao redor também pode.

Além da falta de decência ao me "devorar" com tamanha indiscrição, ganhei, como bônus, uma porção de impropérios, que prefiro nem reproduzir aqui. Não tive outra reação senão focar no meu carro e acelerar a passada até o mesmo. Nesse tempo, fui sentindo meu rosto queimar de tanta vergonha e de raiva daquele homem.

Enquanto passava pelo cara, a minha sensação era de estar completamente nua, mesmo trajando calça e blusa de frio, ambos recém-resgatados do guarda-roupa para um dia típico de outono. E ainda que estivesse usando saia e tomara-que-caia de pleno dia quente de verão, ele ainda não tinha o direito de me fazer sentir daquele jeito, impotente, indignada, enojada...

Desabafei! E só. Eu sei que essa não é a primeira vez, eu não sou a primeira e nem serei a última. 

Não são todos manés como ele, e nem todas se sentiriam constrangidas como eu. Claro! Sem generalização aqui.

Mas enquanto ainda existirem tipos de comportamento como esse, vestirei a camisa e reforçarei o que se tornou clichê nessas últimas semanas: Eu não mereço ser estuprada, seja física, visual ou verbalmente. 

E, para mim, não é exagero. 
O respeito ao próximo começa pelas atitudes mais simples, depois que complicar, não adianta querer consertar.

Amanda Fabris

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