quinta-feira, 15 de maio de 2014

Reviver faz bem!


Quer uma dica para reviver momentos e pessoas sensacionais que passaram pela sua vida como acompanhante de camarote? Revire seu armário, suas gavetas e, pronto, já pode começar a se revirar por dentro também. Prepare-se para ir da gargalhada de tirar o fôlego ao pranto descomedido. Uma vida cheia de boas recordações costuma mesmo apresentar efeitos colaterais inversos e extremos. 

Se existe uma coisa que você pode e deve colocar em ordem, por mais bagunçada que esteja a sua vida, é o seu quarto. Mais especificamente, elas: as donas gavetas. Sabe aquela que você quase não abre, de medo que salte uma barata de dentro, ou que, de tão estufada que anda, emperra toda vez que você inventa de tirar alguma coisa de lá? Essa aí. Uma verdadeira caixinha de surpresas, não é mesmo? Porém, apesar dessas armadilhas, é provável que ela também lhe reserve surpresas pra lá de agradáveis. 
Portanto, mãos à arrumação!

Organize tudo. T-U-D-I-N-H-O. Mas em hipótese alguma deixe de folhear suas agendas antes de decidir guardá-las novamente ou descartá-las. Nada vai parecer mais infantil e engraçado do que reler aqueles seus comentários cotidianos da agenda de 2009, cuja estampa da capa era a fofa da Hello Kitty (que deixou de ser fofa já no ano seguinte, quando a moda passou a ser a meiga da Pucca). 

A cada folha virada, uma carícia na nuca. Quando não, um soco na cara. Eu avisei que você devia se preparar...

Vai se lembrar de ter feito coisas que, se não tivessem sido registradas à caneta, com a sua própria caligrafia linda e inconfundível, nao acreditaria ter sido capaz de fazer. Vai se questionar por que cargas d'água chorou tanto por aquele cara que, de positivo, só te trouxe um corpinho mais magro no pós-sofrimento. Vai se inconformar com o tanto de conteúdo acadêmico que se evaporou da sua memória mesmo depois de ter agendado tantos estudos de grupo e feito tantas provas da faculdade. Vai encontrar inúmeros recadinhos meio sem pé nem cabeça, deixados por amigos meio sem noção, mas de todo coraçao. Vai rir com a sua incrível habilidade em parecer estar vidrado ao professor e à explicação dele, enquanto, na verdade, aquela sua cara e posição eram somente parte da estratégia para colocar em prática a sua tão amada arte da caricatura. Vai recordar gostos musicais estranhos que, de preferência, vai continuar só na recordação mesmo. Vai perceber que sua agenda aparentava ser volumosa e encorpada não exatamente pela quantidade de tinta e escrita acumulada, mas por causa das poucas centenas de adesivos, fotos, cartões e papéis de bala-bombom-chiclete, anexados às folhas com clipes coloridos quase que diariamente. Vai se perguntar por que escreveu e guardou tanta coisa que, hoje, não passa de passado e, logo, em meio segundo depois dessa pergunta, vai ver a resposta traduzida por meio de um sorriso espontaneamente bobo ou de uma lágrima mansinha e discreta escorrendo pelo cantinho do rosto.

A melhor parte de se perder dando voltas pelo passado é perceber que nada foi perdido. Ganha-se uma porcão de experiências, sentimentos, lembranças e, principalmente, amigos que, se depender do quanto me cativaram, também me ganharam para o resto de suas vidas.

Uma história gostosa de ser relida e revivida pode ser escrita com ou sem agenda, mas sem boas companhias, meu caro, impossível.

Amanda Fabris
 

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